segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Ele tinha um céu, mas não era azul.

  
Ele amava, sorria das piadas bobas que faziam, corria na chuva como criança, sentia o sol esquentar sua face, mas como qualquer outro ser humano, fazia essas coisas passarem despercebidas.
O frio do ar-condicionado continuava presente, suas costas doíam, suas pernas estavam cheias de bolhas por ficar tanto tempo na mesma posição, ele olha com o canto de olho para a janela, o sol raiava forte lá fora, ele imagina o calor preenchendo sua pele, aqueles momentos que  ele só tinha na memória.
As lagrimas caíram por sua face, era assim todo dia, cada hora era mais sessenta minutos de tortura preso naquela cama.
Os flashes dos gritos passavam incansavelmente em sua mente desocupada. O carro cheio de alegria, sorrisos e falatórios, a noiva estava ali do seu lado, sorrindo e conversando alto com as amigas.
-Henrique, olha para trás. – Vitória, sua irmã fala alegre.
-Não posso, estou dirigindo. – ele dá um sorriso de responsável.
-Só uma foto. – três palavras que sentenciariam seu destino.
Ele olha e sorri para a máquina, um fleche forte batido no escuro ardeu em suas pupilas, ele olha para frente com os olhos fechados para a rua.
-Henrique! – Gabi, sua noiva, grita em um relance.
Seus olhos voltam ao normal, um clarão aumenta na sua frente, como instinto ele gira o volante, tarde demais, em uma fração de segundo tudo se resume a grito e a cabeça girando em vários golpes junto com o carro.
Morte. A única palavra que passava por sua cabeça, ele não enxergava mais nenhum motivo de viver.
-Desculpe. – o médico falou assim que ele acordou do coma, três semanas depois do acidente. – Ninguém resistiu aos ferimentos.
Ninguém, exceto ele, o peso da culpa era um fardo quase insuportável, o preço a ser pago foi alto: ele não se moveria nunca mais, sua coluna não o sustentaria em pé, o único movimento que ele fazia era mexer levemente a cabeça de um lado para o outro. Era prisioneiro de suas limitações.
Ele  volta a realidade e olha para seu amigo que se encontrava assistindo televisão, é muito chato ser acompanhante de um semi vegetal.
-Bruno. – ele chama com a voz fraca. – Se eu te pedisse um favor, você faria?
-Claro Henrique pode falar. – seu amigo que sempre esteve presente poderia ser o meio do fim de seu sofrimento.
-Existe um componente químico chamado cianureto, você colocará em um copo com um canudo e eu tomarei até o ultimo gole, antes disso farei um depoimento gravando minha vontade para não incriminar ninguém. – ele fala decidido em cometer eutanásia.
-Você ficou doido Henrique? Eu não vou matar você. – Bruno fala em desespero pelo que acabar de ouvir.
-Você não vai me matar, eu que chuparei o conteúdo do canudo.
-Não conte comigo, não posso levar o peso de seu sangue em minhas mãos. – Bruno declara em um veredicto final. Henrique o conhecia e sabia que ele não o ajudaria.
Ele se cala, e finge ter desistido da idéia, duas semanas depois a enfermeira entra no apartamento e volta desesperada para avisar o doutor plantonista.
O sangue estava recobrindo todo seu corpo, ele mordeu sua língua, a arrancou ate que o levasse a morte,  a única maneira que ele encontrou de ter paz, sem que a culpa e sua dor o levassem a loucura. O cansaço de tentar o fez desistir.
Com os olhos fechados ele parecia adormecido;
Tranqüilo;
E com um pouco de paz.

Juliana Santiago

P.S: Em uma aula de religião o debate sobre eutanásia rolou solto, e foi a inspiração para esse conto. Eu sou contra a eutanásia, pois como sou cristã, a considero suicídio e portanto um pecado, tirando ate seu direito de salvação. Dei minha opinião, quem quiser pode dar a sua também, vamos debater sobre um assunto tão polemico, visto de diversas facetas. Bjin :*



3 comentários:

  1. Que conto triste, mas é um assunto bem polêmico mesmo. A gente vê muito disso nos filmes, mas rola muito na vida real. Eu sou a favor, pois a pessoa não vive direito, e é sempre dependente de alguém. Acho que a eutanásia é uma solução para esses enfermos que estão cansados de viver.
    um beijo. :*

    ResponderExcluir
  2. uau, que forte essa história, adorei! eu não sei bem se sou a favor ou contra, tive umas aulas falando sobre o assunto na faculdade, acho que tudo tem seu lado bom e reuim, cada um decide se vale a pena ou não arcar com as consequencias.

    ResponderExcluir
  3. Que forte essa história.
    Adorei o modo como desenvolve ela, escreve bem *-*

    ResponderExcluir

Todas as perguntas serão respondidos e visitas retribuidas.
obrigadah pelo comentário, eles me ajudam a prosseguir.
**