Subitamente ela encosta seus cabelos loiros e
ondulados sobre a sua cama alva, engraçado o contraste que tal cor fazia com
seus pensamentos nebulosos, o teto limpo, o silêncio do ar, apenas sua respiração
ofegante e aquela ansiedade de a qualquer momento ele entrar por aquela porta,
hoje ela precisava enfrentar seus receios, seus medos e tentar seguir em
frente, colocar um ponto final em uma história cheia de reticências.
Os minutos passavam lentos, ela ensaiava um texto
inteiro na cabeça, tudo aquilo que nesses últimos meses estavam acumulados,
entalados para sair. A decisão estava tomada, e era irrevogável. Em meio a seus
devaneios ela nem escuta a porta da frente se abrir e a presença dele no
quarto.
-Oi amor. – Ele se aproxima e beija sua testa.
Ela fecha os olhos e sente aquele toque, que em
tantas vezes fazia seu coração parar de bater ao mesmo tempo que acelerava.
Saudades, era a palavra daquela sensação.
-Oi. – Sua voz sai seca, quase que um cuspido
rápido.
-Nossa! Hoje foi super acumulado no trabalho, você
não tem noção, relatórios, críticas, e muito saco para aguentar meu chefe.
Ele falava tão atribulado que nem se tocava na
estátua feminina pousada na sua frente sem representar nenhum estímulo ao seu
desabafo pessoal.
E um filme ia passando em sua cabeça. As risadas
gostosas que eles davam juntos, tudo que enfrentaram, aquela ideia de amor
eterno, a escolha do nome dos filhos, dos bebês correndo pela casa, as brigas
terminadas na cama relembrando como seus toques unidos eram perfeitos. E uma
lágrima rolou de seus olhos. Uma gota que representava uma história.
Percebendo seu silêncio, ele perguntou:
-Tudo bem Bruna?
Ela engoliu seco. Não estava nada bem. Mas seus
lábios selaram, aquele discurso todo tinha ido por água abaixo.
-Bru? - Ele senta do seu lado. Nervoso.
E as palavras sumiram. A única coisa que restou
foram lágrimas, aquela gota solitária se transformou em centenas.
Ele abraçou ela, em saber o porquê daquilo tudo.
-Ei, calma. Estou aqui, vai ficar tudo bem.
Ela se aconchega naqueles braços quentes, que
tantas vezes a acolheram no frio, na dor e quando ela se sentia sem rumo, ele
tinha dado uma direção em sua vida.
-Eu estou confusa. – Ela fala hesitante.
Ele se afasta um pouco, olha em seus olhos e diz
firme:
-Como assim?
-Não sei Vitor, não sei. As coisas não eram como
antes, os sentimentos não são como antes. As lembranças são a nossa cola mil.
Um texto ensaiado diminuído em três frases. Ele
balança a cabeça sem entender, levanta meio atordoado.
-Não estou entendendo nada! Pensava que estava tudo
bem.
Ela começa a querer soluçar, ambos sabiam que se
ela tivesse um ataque de choro, as palavras ficariam engatadas, então ela
respira fundo e prossegue.
-De um tempo atrás, eu venho sentindo a falta do
que éramos. Parece que perdemos a essência, como se o tempo tivesse apagado
aquilo que nos fez ficar juntos. Dormimos na mesma cama, sobre o mesmo teto,
mas parecendo dois estranhos que só rotulam o casal lá fora, mas aqui dentro,
são dois desconhecidos que um dia tiveram uma história, não é isso que quero
para mim.
-Mas Bruna você sabe como o tempo está corrido,
como as coisas não estão fáceis.
-Isso mesmo! – Seu tom se torna mais gritante –
Antigamente quando as coisas estavam difíceis o que fazíamos?
Ele se calou. Ambos sabiam a resposta.
-Dávamos a mão e enfrentávamos juntos! E agora? Um
segue com seus problemas, até as conquistas estão individualizadas, tudo isso
vem me balançando, não estou colocando a culpa em você, eu também sou culpada
de deixar isso acontecer. Mas eu não quero uma pessoa, que com um tempo se
esqueça do significado de casal. Eu amo você apesar de tudo, mas te garanto,
muita coisa mudou. Hoje, já não tenho tanta certeza que é com você que quero
continuar minha história.
Ele senta na cama. Era muita coisa de uma vez só.
Como se o maior tesouro estivesse escapando de suas mãos.
-Não sei nem o que falar. Eu te amo, e você sabe
disso. As coisas aconteceram e eu nem percebi.
-Não percebeu porque não quis. Todos os dias,
tentava conversar, reverter a situação, mas já chega.
Ela levanta, vai em direção ao canto do quarto e
segura sua mala, com as mãos trêmulas.
-Estou indo, hoje estou seguindo meu rumo, depois
vemos como fica nossos poucos bens.
Ele levanta aflito, com os olhos suplicantes.
-Bruna você é tudo que tenho. Meu porto seguro,
minha preciosa, é em você que penso ver todos os dias quando saio do trabalho,
é por você que dedico todo o meu sacrifício em termos uma vida melhor, é com
você que penso ter meus filhos, e puxarem esse sorriso lindo e esse
temperamento forte que sempre me conquistou.
Aquele palpitar forte retorna ao seu coração, ela
percebe franqueza em seus olhos. E hesita em sair pela porta.
-Me escuta, sei que ambos erraram, eu
principalmente! Em não ser capaz de olhar os sinais na minha mulher, na mulher
que amo, você merece as maiores felicidades do mundo, e te peço perdão se não
estava te proporcionando isso, mas prometo que daqui para frente irei melhorar,
te peço só essa chance, se eu falhar você pega suas malas e sai por aquela
porta.
Então os seus olhos cruzam, ele se aproxima, e fala
em seu ouvido.
-Eu te amo como nunca amarei mais ninguém. Por
favor, não vá!
Ela começa a chorar. Era difícil arrancar uma parte
dela, alguém que já fazia parte da sua essência. Ela percebe que está onde
deveria estar. Que não deveria encontrar nenhum rumo, porque era com ele seu
lar.
E ela o beija, aquele beijo apaixonado, como se
fosse o primeiro, toque esse único e inexplicável.
-Eu não vou. Eu te amo, e se preciso montaremos
nossa história novamente.
E o ponto final, virou reticência novamente. Mas
ela sentia algo diferente, que essa reticência, seria de uma história contínua,
porque era naqueles braços o qual ela queria estar o resto de seus dias.
Juliana Santiago
P.S: Oi gente. É, ando muito sumida do blog. É
que ano passado, me dediquei totalmente para o vestibular, e boas novas.
Passei, para a UEA – Universidade Estadual do Amazonas, tão sonhada medicina :D
E esse ano muitas coisas boas estão acontecendo, graças a Deus, estou fazendo autoescola,
(sim, virei de maior haha), e a quentinha: o meu livro Rainha do Drama, pode
ser lançado, entre 65 ele está na seleção dos 20 finais, agora é cruzar o dedo
para que tudo dê certo. E a mais nova de todas é que estou de volta. Beijos
meus amores, e um ótimo carnaval, e que 2013 venha com tudo para todos nós!