Ansiedade. Nervosismo. Medo e constantes palpitações no peito, o
relógio parecia estar parado, era torturante o tempo se arrastar em uma lentidão
quase descrente. Suas mãos gélidas transpiravam com facilidade, ela limpava
constantemente o suor em seu jeans surrado. Rebeca esperava no shopping perto
da loja que Debora trabalhava, tinha faltado aula, o medo de atrasar ou não
chegar a tempo levou a preferir um livro na cara e fones de ouvido no banco
mais esquecido do grande império de lojas.
Finalmente chegara a hora de ela ir até Debora. Ela não entendia o
porquê desse desespero todo, o porquê dessa pressa, ela precisava saber o que
estava acontecendo.
Ela se aproxima da loja, e ao entrar Debora estava de costas e não
percebeu sua presença, aquela garota frágil, miúda e perfeita. Com a pele alva
e cabelos cor de mel que caiam em ondas perfeitas como um mar contido por leves
brisas.
-Oi. –Rebeca balbucia tímida.
-Oi linda. – Debora pronuncia exultante e graciosa.
Linda. Estranho, ela sempre se achou um desastre em vida, mas
perto dela, parecia que o melhor da sua alma vinha à tona.
-Estava fechando meu horário, vou pegar meu casaco.
-Tudo bem. Eu espero.
Enquanto Debora se retirava, Rebeca tinha um conflito interno
violento e desastroso, seus poros dilataram a tal ponto que pareciam bicas de
transpiração, passar a mão na sua calça estava mais constante, seu peito
arfava, e o seu pulsar aumentava.
-Prontinho. – Debora volta vestida em seu casaco xadrez.
-Então vamos!
-E então como foi o dia? – Debora pergunta quebrando o gelo.
-Ah. Nada de muito surpreendente. E o seu?
Falar de sua ansiedade extrema e de sua neura de olhar para o
relógio a cada cinco minutos não era uma boa ideia.
-A loja hoje foi tranquila, estava para dormir encostada na
parede.
Um sorriso lindo escapa de seus pequenos lábios, Rebeca desvia o
olhar da boca dela.
-Você quer mesmo comer no restaurante? – Debora para de repente e
olha sugestiva para Rebeca.
-Por mim tanto faz, tem algo em mente?
Debora balança a cabeça positivamente, morde os lábios com um
jeito sapeca, segura suas mãos e a conduz para outro lugar. Depois de quinze
minutos de passeio, falatórios e risos, Rebeca parecia diferente. Não, era a
mesma, só estava tirando tudo que esteve ali guardado por tanto tempo, e isso
era ótimo, nunca se sentiu tão bem.
-Dois cachorros quentes. Pode caprichar na mostarda. – Debora pediu
o almoço de ambas em uma barraca no parque perto de seu trabalho, ambas
sentaram embaixo de uma frondosa árvore e começaram a mastigar o delicioso
quitute.
-Nossa! Quanto tempo eu não fazia isso. – Debora sorri satisfeita,
estica suas pernas e olha para as árvores balançando. Rebeca apenas a observa, seus
traços delicados e graciosos pareciam um desenho perfeito, era como se ela precisasse
protegê-la, estar sempre por perto para garantir que aquele sorriso estivesse
ali, sempre.
-Por que você quis vir aqui? – Rebeca quebra o gelo.
-Ah, não sei. Só queria algo diferente.
-Eu sempre fugi do diferente, mas em um dia tudo que eu pensava de
concreto, se desmanchou e eu me sinto mais viva do que nunca. Obrigada.
-Não precisa agradecer, acho que temos que aproveitara
oportunidade de viver todos os dias da melhor maneira possível e é isso que eu
tento fazer.
Debora retira os olhos das folhas que balançavam com o vento e
sorri para Rebeca. E com um gesto, ela estava desarmada.
Ela nunca tinha se sentido assim, aqueles olhos pareciam seu lar,
o lar que ela sempre procurou e achou que nunca encontraria. Como que isso
poderia acontecer? Era normal? Normal, nunca foi um adjetivo que ela poderia se
enquadrar, mas o normal nunca a atraiu e isso a felicitava. Os conflitos
passavam em questões de segundos, enquanto seu coração palpitava forte e suas
mãos suavam ainda mais.
Debora estava distraída demais com as pessoas passando, com a
paisagem ao redor que nem percebeu a tortura de Rebeca. Debora se inclina para
ela, tira os grampos do cabelo de Rebeca, e seus cabelos pretos caem sobre sua
face, retira seus óculos e olha para seus olhos.
-Você é tão linda. Por que se esconde tanto?
-Por que às vezes ser invisível é mais fácil. Sem incômodos, sem
cobranças desnecessárias da sociedade.
-Entendo. Mas se esconder não é um caminho tão fácil como você diz
às vezes ser notada também é bom, deixar que o mundo a veja, e que você veja o
mundo. Quantas coisas você já perdeu olhando para o chão enquanto poderia olhar
para frente, quantos sorrisos deixaram de ser direcionados a você pela máscara
a qual você mesma colocou?
Rebeca se cala, e abaixa seus olhos, ela nunca tinha pensado por
esse ângulo. Debora levanta sua cabeça levemente com a ponta dos seus dedos.
-É assim que você deve encarar o mundo. Não tenha medo dele, e ele
terá medo de você. Medo da mulher ousada e decidida que vai encarar. Você é
linda, não precisa se esconder.
Rebeca olha para Debora, e mergulha naqueles olhos dançantes,
nunca ninguém tinha tocado tão fundo de sua alma.
-Você é mais.
Ela se aproxima lentamente encarando-a, segura delicadamente por
trás da nuca de Debora e toca seus lábios junto ao dela, os movimentos fluem e
se comportam perfeitamente, seu hálito quente e doce desperta novas sensações,
desperta o êxito. O beijo delicado se torna intenso, quente e perfeito.
Elas se encaram um pouco assustadas, nervosas e desconcertadas.
Debora olha para baixo sem saber o que falar, mas nada precisa ser dito, não
tinha o que ser dito.
-Desculpas. – Rebeca balbucia envergonhada. Ela pedia desculpas
como forma de educação, mas não se arrependeu nem um pouco do que havia feito.
-Tudo bem, é que eu nunca tinha feito isso. Na verdade, é errado,
certo?
-Se sentir viva, feliz e completa for errado. Então esse beijo foi
o pior erro do mundo. Erro esse que repetiria quantas vezes fosse necessário.
Debora sorri.
-Você é muito boba. Eu não sei o quer falar, eu nunca fiz isso,
não é certo, eu...
Rebeca a interrompe e a beija novamente, aquele toque era único, a
completava de uma maneira inexplicável. O novo era bem vindo, o novo a fazia
bem, ainda que esse novo fosse o diferente, o pecado visto pela metade da
sociedade, mas naquele dia ela aprendera que a felicidade dela era a
prioridade, durante muito tempo ela deixou que o medo a privasse de viver. Até
o momento que seu lar apareceu, aqueles braços miúdos, graciosos e quentes. Os
quais ela não queria deixar. Nunca mais.
Juliana
Santiago
Ficou muito perfeito *-*
ResponderExcluir-Mana
Ficou lindo, mas isso me intrigou.
ResponderExcluirAdoraria saber o motivo da sua inspiração para escrever um conto lésbico.